quinta-feira, 26 de maio de 2011

Dos formatos da cognição na acção

«Dans la relation entre modalités de connaissance et modalités d'action, les classements occupent une place importante, comme le montre le débat suivant de "cognition sociale". Bernard Conein, qui a remarquablement oeuvré pour ce champ disciplinaire à la frontière entre sociologie et sciences cognitives, critique l'extension que donne Rosch à son modèle de prototype lorsqu'elle l'étend aussi bien aux oiseaux qu'aux meubles. Cet élargissement ignore les différences entre "domaines conceptuels" reconnues par Scott Atran comme déterminant différentes "attentes de sens commun": identification essentielle et taxinomique propre au domaine biologique, catégorisation des objets fonctionnels (artefact), catégorisation des êtres intentionnels (personnes). Ces différences rejailissent sur la structure des catégories. Meuble n'est pas une partie de la définition de chaise, alors qu'animal est une partie de la définition de chat. La catégorisation taxinomique s'éloigne ainsi d'une identification par reconnaissance, ancrée dans la perception, cette dernière étant à l'origine du rapprochement par types. Remarquons cependant que la différence entre un rapprochement "taxinomique" logique, et un rapprochement perceptuel par typicité, peut se brouiller lorsque l'on considère les modalités d'action dans lesquelles ces catégorisations son mises en oeuvre. Ainsi que l'indique Conein, Atran observe que l'entrée de certaines formes vivantes dans le régime de l'usage, et leur emploi dans l'alimentation, le jardinage ou l'agriculture modifient le statut cognitif de certains spécimens. C'est précisement cette question qui nous a conduit à distinguer des régimes d'engagement permettant de différencier les façons de saisir des êtres, sans les attacher rigidement à des domaines comme Atran suggère de le faire. Un être de nature peut être saisi fonctionnellement, et un artefact "intelligent" traité raisonnablement dans un régime intentionnel. La notion de régime permet d'éclairer le type de propriété atribuée aux agents de l'environnement aussi bien qu'à l'acteur engagé, et donc le format de l'information pertinente pour saisir des propriétés».


THÉVENOT, L. (2006). L'action au pluriel. Paris: La Découverte.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Apoios



Imagem extraída de:
http://www.empresascentral.com.br/index.php?route=product/product&product_id=125


Nancy Nersessian, investigadora nomeada para o Prémio Fernando Gil 2010, tem efectuado investigação sobre os mecanismos «cognitivos e culturais» subjacentes à inovação científica. Como tenho trabalhado a partir de um quadro sociológico pragmático e me interessam os problemas colocados pelos investigadores da «cognição distribuída», resolvi deixar aqui uma citação desta autora:

«(...) The complex problem-solving practices of research in science and engineering require that science studies researchers understand and analyze them as forming and being enacted within cognitive-cultural systems. These systems comprise humans, artifacts, and procedures, ranging from techical to mentoring. A cognitive-cultural system is not a fixed entity, and thus should not be reified.»

NERSESSIAN, N. (2006). «The Cognitive-Cultural Systems of the Research Laboratory». Organization Studies.

domingo, 22 de maio de 2011

Reflexão domingueira

Admitindo que não existem conceitos «a priori» na mente humana, forçosas se tornam a apercepção e a compreensão de que quanto existe de conceitos (grosso modo) comuns na mente de diferentes sujeitos resulta de um qualquer trabalho de comunalização, como é o caso num processo de socialização ou educação. É assim, ademais, que um «fundo comum de conhecimento», ele próprio com um fundamental valor de sobrevivência para a espécie humana, é transmitido, por exemplo entre sujeitos.


Não devemos, porém, confundir um fundo conceptual comum com um fundo linguístico comum. Se é certo que cabe esclarecer ainda, por meio de complexa investigação, as relações entre os dois termos, não o é menos que existem «regiões» conceptuais da mente que não se formam exclusivamente a partir dos padrões sonoros ou escritos a que chamamos palavras.


Esta constatação não significa, entretanto, uma cedência à ideia de existência de uma experiência fundamentalmente privada do mundo, a qual se relacionaria de modo ainda por deslindar inteiramente com a linguagem verbal. Aqui, na verdade, a investigação pragmatista permite-nos afirmar que a experiência conceptual do mundo, mesmo quando não totalmente verbal(izada), depende em alguns de seus mais decisivos aspectos de dispositivos materiais e simbólicos que organizam essa experiência e, por conseguinte, os seus arranjos conceptuais. O que significa que a mesma é ainda comum. É assim que as significações conceptuais subjectivamente elaboradas a propósito do mundo podem permanecer tendo esperança de se fundarem objectivamente, isto é, no quadro do concerto comum das consciências.

Tolerância e pluralismo

«A diferença [entre uma sociedade pluralista e uma sociedade tolerante] é que uma sociedade tolerante consente na existência de modos de vida concorrentes, mas não atribui nenhum valor a esta diversidade. Pelo contrário, uma sociedade pluralista não apenas tolera modos de vida concorrentes, como também estima que a sua existência seja uma coisa importante».



Avishai MARGALIT, La société décente.

Humilhação

«(...) O conceito-chave da humilhação é a rejeição da humanidade comum. Mas uma tal rejeição não se funda na opinião ou na posição segundo a qual a pessoa rejeitada não é senão um objecto ou um animal. A rejeição consiste em comportar-se como se a pessoa fosse um objecto ou um animal. Uma tal rejeição consiste habitualmente em tratar os homens como sub-homens».

Avishai MARGALI, La société décente.

sábado, 7 de maio de 2011

Pascal sobre a tirania





«É da natureza da tirania o desejo de poder sobre o mundo inteiro e fora da sua esfera própria.

Há diversos grupos - os fortes, os belos, os inteligentes, os devotos - e cada homem reina no seu e não em qualquer outra parte. Porém, algumas vezes encontram-se, e tanto os fortes como os belos lutam pelo predomínio - estupidamente, pois o seu predomínio é doutro género. Não se entendem entre eles e cada um comete o erro de aspirar ao domínio universal. (...) As seguintes afirmações são por isso falsas e tirânicas: 'Porque sou belo, exijo respeito'; 'Sou forte, logo os homens devem amar-me...?; 'Sou... etc.'.

A tirania é o desejo de obter por um meio aquilo que só por outro se pode conseguir. Temos deveres diferentes para com diferentes predicados: o amor é a resposta adequada ao encanto, o medo à força e a crença à instrução».



Blaise PASCAL, Pensamentos.