segunda-feira, 29 de março de 2010

Singularidade e individualidade

Para os que se debatem com as questões levantadas pela sociologia pragmática e designadamente com o estatuto da singularidade no quadro da acção, transcrevo abaixo a identificação de um problema de grande interesse e porte, levantado por André Barata, docente da Universidade da Beira Interior. Oriunda da filosofia, esta reflexão pode bem estar no centro das preocupações teóricas e epistemológicas do sociólogo. Teóricas, porque se trata, em sociologia, de dar conta da forma como os actores (se) classificam e agem em função dos seus actos de classificação; epistemológica, porque o sociólogo é, ele próprio, um ser classificador, o qual deve estar extremamente atento aos exercícios de generalização / particularização que empreende (caberia perguntar pelas implicações éticas da discussão, mas talvez seja bom deixar isto para outra altura).

"Se falamos de indivíduos, não o fazemos a não ser por algo que nestes se deixa identificar como sendo da ordem do individual. O carácter evidente desta afirmação contrasta, porém, com a dificuldade em se determinar o regime desta identificação quando nos reportamos à classe dos indivíduos singulares. A unicidade convém ao singular como a unidade convém ao indivíduo, mas entre o que é um e o que é único não resulta fácil compreender como estabelecer um regime partilhável.

Com efeito, assumindo a impossibilidade de identificar algo sem, nisso, estar implicado um seu reconhecimento, ou seja, algo que não tivesse, antes, já sido de algum modo identificado, então, parece que uma condição de reconhecimento do que é individual residiria precisamente na sua não singularidade. Conversamente, uma condição do reconhecimento do singular consistiria na resistência ao reconhecimento da sua unidade, da sua unidade enquanto indivíduo. Paradoxalmente, diríamos que os indivíduos apenas se deixam reconhecer como indivíduos singulares justamente por resistirem ao reconhecimento da unidade que nos permitiria individuá-los".

BARATA, A. (2009). "Individualidade e singularidade nas correlações mente/corpo". in SOARES, M. et al.. O Estatuto do Singular - Estratégias e Perspectivas. Lisboa: INCM, pp. 319-331.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Boudon sobre Simmel

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«Le point de départ de Simmel est que tout ce qui a un intérêt du point de vue historique est l'expression ou le produit de phénomènes psychiques. Le tunnel du Saint-Gothard est un objet physique. Mais il est le résultat de certaines décisions, lesquelles répondaient à certaines intentions. Expliquer l'existence du tunnel du Saint-Gothard, c'est donc retrouver ces intentions et ces décisions, c'est reconstruire les contenus de conscience dont il est le produit. L'histoire, comme Simmel nous le dit dès toutes premières phases du livre [Les problèmes de la philosophie de l'histoire], a pour objet 'les représentations et les sentiments des acteurs historiques'.»

Raymond Boudon, Études sur les sociologues classiques

§ 472

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«472. Quando uma criança aprende a linguagem, aprende ao mesmo tempo o que deve e o que não deve ser investigado. Quando aprende que há um armário no quarto, não lhe ensinam a pôr em dúvida que aquilo que vê mais tarde ainda seja o armário e não apenas um adereço de cenário.»

Ludwig Wittgenstein, Da Certeza