segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Boltanski sobre a singularidade

Imagem retirada de: http://www.liberation.fr/sortir-de-la-crise/0101557163-on-humilie-les-gens-on-les-pousse-a-bout

«Les êtres humains vivant en société, nécessairement inscrits en différentes taxinomies, doivent (...) pouvoir aussi être identifiés comme étant des individus singuliers. Ils sont alors qualifiés par rapport à un ensemble dont ils constituent le seul membre. In ne suffit donc pas qu'ils soient des spécimens d'une espèce (l'espèce humaine) ou des membres de différentes catégories qui les saisissent chaque fois en tenant compte de l'une de leurs propriétés (être un oncle, appartenir à tel ou tel sous-groupe, ou, dans notre société, à telle ou telle profession ou à telle classe sociale, etc.) pour prendre place dans la société de leurs semblales. Chacun d'entre eux doit également constituer un être singulier, c'est-à-dire un être unique tel qu'aucun autre ne puisse se susbtituer à lui et prétendre être absolument le même

Luc BOLTANSKI, La condition foetale - Une sociologie de l'engedrement et de l'avortement.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Pensamento

Um dos últimos «Câmara Clara» versou sobre a importância da reflexão e do pensamento, nomeadamente de raiz filosófica. Merece a pena ver e ouvir (o que não significa concordar sempre e com tudo o que é ali dito).

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Morris sobre Mead - Pragmatismo e Universalidade

C.W. Morris
Imagem retirada de: http://www.pragmatism.org/research/prag_books.htm

Estudando recentemente o livro Mind, Self and Society, de George Herbert Mead, encontrei as seguintes afirmações de Morris (na Introdução ao livro, que compilou), tão rigorosas quanto esclarecedoras sobre as relações entre as teorias pragmatistas e a epistemologia, designadamente no que toca o valor da universalidade. Partindo do quadro analítico pragmatista (com óbvias coincidências com a filosofia do «segundo Wittgenstein»), o autor esclarece-nos da seguinte forma.


«It is frequently stated that the pragmatist must be a nominalist and cannot do justice to the fact of universality. In reality, pragmatism is nearest at this point to medieval conceptualism. It is only when the symbol is a bare particular, standing indifferently for a number of other particulars, that nominalism is the result. As a fact, however, the significant symbol, as a gesture, is not arbitrary, but always a phase of an act, and so shares in whatever universality the act possesses. (...) Universality is thus not an entity but a functional relation of symbolisation between a series of gestures and of objects, the individual members of which are "instances" of the universal.


(...) The objects have universality in relation to the act which they indifferently support; the act has universality as the character of being supported indifferently by a range of objects. In such a situation the act or segment of the act that is the gesture may be regarded as the universal under which fall or in which participate the stimulus objects as particulars; while the universality of the objects is the character they possess in common of serving as stimuli to the act. By making universality relative to the act it is brought within the scope of an empirical science and philosophy.


(...) The generalized other, in terms of the account just given, may be regarded as the universalization of the process of role-taking: the generalized other is any and all others that stand or could stand as particulars over against the attitude of role-taking in the co-operative process at hand.»


MORRIS, Charles W. (1962). Introduction. in MEAD, George H. Mind, Self & Society from the Standpoint of a Social Behaviorist. Chicago: The University of Chicago Press.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Goffman: laços sociais


Imagem extraída de: http://www.horst-helle.de/goffmand.htm

«The bonds that tie the individual to social entities of different sorts themselves exhibit common properties. Whether the entity is an ideology, a nation, a trade, a family, a person, or just a conversation, the individual's involvement in it will have the same general features. He will find himself with obligations: some will be cold, entailing alternatives foregone, work to be done, service rendered, time put in it, or money paid; some will be warm, requiring him to feel belongingness, identification, and emotional attachment. Involvement in a social entity, then, entails both commitment and an attachment


GOFFMAN, Erving (1961). Asylums - Essays on the Social Situation of Mental Patients and Other Inmates. New York: Anchor Books.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Trickle Down?

Imagem retirada do sítio web da Economist's View

Resolvi partilhar a ligação que fica abaixo. Esta ligação remete para um pequeno artigo publicado no Economist's View, no qual se analisa o «mito» de que o crescimento económico geraria, só por si e automaticamente, a redução e mesmo, no limite, a erradicação da pobreza. Curto, mas incisivo e interessante. Agradeço aos colegas da secção de Pobreza, Exclusão Social e Políticas Sociais da Associação Portuguesa de Sociologia que divulgaram este artigo.

http://economistsview.typepad.com/economistsview/2010/11/when-is-economic-growth-good-for-the-poor.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+EconomistsView+%28Economist%27s+View+%28EconomistsView%29%29


sábado, 30 de outubro de 2010

Turismo cultural, territórios e identidades

Saiu recentemente um livro, coordenado por Maria da Graça Poças Santos, no qual figura um capítulo por mim escrito, recuperando um texto de há alguns anos. Resolvi partilhar a informação aqui. Remeto para o endereço no Facebook da Editora, a Afrontamento.

http://pt-pt.facebook.com/note.php?note_id=135244129854987

sábado, 16 de outubro de 2010

Weller e o Estado

Muito embora já sobre ela tenha passado uma década, a entrevista de Jean-Marc Weller disponível através da hiperligação seguinte permanece com uma actualidade total. O autor aborda o trabalho realizado nas «burocracias» do Estado, designadamente ao nível daquilo a que chama a «baixa administração», de uma forma tão original quanto fecunda e possibilitadora de reorganizações perceptivas sobre o funcionamento dos organismos públicos.


http://www.vacarme.org/article27.html

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A quem possa interessar

Deixo abaixo a hiperligação para um artigo que tive a oportunidade de escrever com o Prof. Doutor José Manuel Resende, da Universidade Nova de Lisboa e que está agora disponível, através da Universidade de Nice.

http://revel.unice.fr/symposia/actedusoin/index.html?id=649

Conferências

Michael Burawoy no ISCTE, em Lisboa


Imagem extraída de : http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1353622



Deixo abaixo a hiperligação para duas conferências, ocorridas num congresso da American Sociological Association, com introdução de Michael Burawoy, sob o tema genérico The Future of Neoliberalism. As conferências são do antigo presidente da República do Brasil, Fernando Henrique Cardoso (que é sociólogo) e do Nobel da Economia Paul Krugman. A não perder.

Etnografia global?

É com palavras irónicas que Michael Burawoy abre o livro por si dirigido, Global Etnhography. Deixo-as aqui expostas.

«How can ethnography be global? How can ethnography be anytinhg but micro and ahistorical? How can the study of everyday life grasp lofty processes that transcend national boundaries? After all, participant observation, as sociologists have crafted it, aims for the subjective interpretation of social situations of the foundations of human interaction. It was designed to elucidate social processes in bounded communities or negotiated orders in institutions. It was incontrovertibly intended for the small scale. It was not certainly not meant for the global!»
Michael Burawoy, Global Ethnography

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Memória III

Edward Shils
« Segregação e disciplina do carisma intenso

Todas as sociedades procuram tomar algumas precauções em relação àquelas pessoas cujas acções são motivadas pela possessão da legitimidade carismática. No interior dos sistemas religiosos, as ordens monásticas cenobíticas ou anacoréticas constituem estruturas institucionais para a segregação e controlo daqueles que estão dotados de carisma, isto é, àqueles que que têm uma predisposição para ressentir um contacto directo com poderes transcendentes. Desse modo são afastados do local da rotina e ao mesmo tempo a sua qualidade carismática é preservada e disciplinada no interior da ordem legítima da colectividade religiosa, na qual uma certa quantidade de atenuação e dispersão do carisma foi conseguida e fixada.

As universidades, que têm de reproduzir muitos padrões de pensamento e avaliação estabelecidos e que têm de manter tradições, enfrentam problemas semelhantes ao tratarem com pessoas jovens com grandes inclinações carismáticas intelectuais e morais. Através da instrução e da investigação, tentam disciplinar essas inclinações carismáticas e orientá-las, pelo menos a princípio, para os problemas aceites e para a visão aceite da ordem da natureza. A descoberta de verdades totalmente novas através da intuição, quando não é controlada pelas técnicas reconhecidas de observação e interpretação, é rejeitada. Aqueles que insistem em utilizar a sua intuição são quer expulsos, quer obrigados a submeter-se à disciplina prevalecente. (...)

Através da segregação, os guardiões das esferas de rotina da vida social mostram ao mesmo tempo o seu receio da natureza disruptiva do carisma intenso e concentrado e a sua apreciação de uma virtude que exige o seu próprio reconhecimento. No entanto, apesar destes esforços para limitar aqueles que possuem tendências carismáticas muito fortes a situações em que eles possam operar carismaticamente e para os submeter à disciplina da institucionalização, os limites são por vezes transgredidos. Os guardiões da ordem de rotina mantêm um reforço contínuo das barreiras contra a movimentação livre das pessoas carismáticas. Nem sempre têm sucesso. (...) Houve ciências que foram revolucionadas por inteligências carismáticas que ninguém conseguiu suprimir; géneros artísticos foram transformados, apesar da resistência da ortodoxia, pelos portadores de uma sensibilidade original, carismática».

Edward SHILS, Centro e Periferia.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Crítica(s)?


Afirmava Theodor Adorno que, na investigação em ciências sociais, é necessário adequar a coisa ao conceito e não o conceito à coisa. Rejeição do empirismo, portanto. Empirismo que é acusado - na sua versão sociológica, o positivismo - de, por ser mera adequação à realidade existente, encerrar o pensamento sobre o social no quadro das estruturas de dominação próprias a uma determinada formação social e, no limite, tornar-se mero conhecimento de tipo tecnocrático, ao serviço dos poderes existentes.


A questão que este tipo de posicionamento me suscita é a de saber se o distanciamento crítico inscrito na organização conceptual não empirista do trabalho sociológico pode apenas redundar numa crítica à dominação. Diria que não. Diria mesmo que a questão me parece quase retórica, se pensarmos no conceito de «tipo ideal» de Weber. Um tipo, para Weber, representa uma abstracção, de tal modo que não encontraremos nunca uma realidade empírica que se conforme completamente à sua descrição. Não obstante, possui forte fecundidade heurística, como sabem os sociólogos, quando comparado com as realidades empiricamente observáveis no sentido de se perceber em que medida as mesmas dele se desviam.


O vasto património científico da sociologia tem assim, pelo menos desde Weber, um exemplo claro da possibilidade de distanciamento crítico que não seja uma crítica social da dominação. Por outro lado, o mesmo exemplo afasta com clareza o fantasma tecnocrático, espécie de distopia sociológica brandida amiúde e com afinco pelos mais ínclitos representantes da Teoria Crítica. Assim, empirismo e crítica da dominação não são as únicas opções teórico-epistemológicas deixadas ao sociólogo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crítica Habermasiana

Imagem obtida em:http://endireitandoeendireitando.blogspot.com/2010/06/jurgen-habermas-pensamento.html

«A consciência tecnocrática é, por um lado, "menos ideológica" do que todas as ideologias precedentes; pois, não tem o poder opaco de uma ofuscação que apenas sugere falsamente a realização dos interesses. Por outro lado, a ideologia de fundo, um tanto vítrea, hoje dominante, que faz da ciência um feitiço, é mais irresistível e de maior alcance do que as ideologias de tipo antigo, já que com a dissimulação das questões não só justifica o interesse parcial de dominação de uma determinada classe e reprime a necessidade parcial de emancipação por parte de outra classe, mas também afecta o interesse emancipador como tal do género humano».

Jürgen HABERMAS, Técnica e Ciência como «Ideologia»

terça-feira, 14 de setembro de 2010

II Colóquio Luso-Brasileiro de Sociologia da Educação


Nos passados dias 8, 9 e 10 de Setembro, decorreu na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre o II Colóquio Luso-Brasileiro de Sociologia da Educação, evento em cuja Comissão Organizadora tive a honra de participar.
A meu ver, foi um Colóquio com um nível elevado de discussão científica, associado a um ambiente cordial, amistoso e próximo. Não quis deixar de o assinalar.

Mais informações em:
http://www.esep.pt/documentos/II%20COLÓQUIO%20LUSO-BRASILEIRO%20DE%20SOCIOLOGIA%20DA%20EDUCAÇÃO/12072010flyer-coloquio.pdf

domingo, 5 de setembro de 2010

Reconhecimento II

Axel Honneth
Retirado de: http://www.information.dk/191944

Nos termos de Axel Honneth, a reificação não resulta de um processo no qual se oponham o reconhecimento e a objectivação. Para o sociólogo alemão, ela acontece quando a objectivação envolve um esquecimento da relação primária (genética e categorialmente primária) que mantém com o reconhecimento.


As teses que Honneth sustenta, a este respeito, indicam, parece-me, uma espessura antropológica entendida pelo autor como irredutível (e, designadamente, irredutível às teses utilitaristas). É esta irredutibilidade, penso, que sustenta toda a possibilidade de uma crítica às formas de reificação. O autor, por outro lado, tem o particular discernimento de não reduzir a objectivação à reificação, procedimento que anularia eventualmente a possibilidade de qualquer discurso crítico ou científico sobre as sociedades humanas.

Reconhecimento I

Axel Honneth
Imagem retirada de: http://gramscimania.blogspot.com/2010/06/entrevista-con-axel-honneth-nunca-ha.html

Preocupação, participação ou envolvimento, de acordo, respectivamente, com as terminologias de Heiddeger, Lukács e Dewey: expressões diferenciadas que designam algo de assaz próximo daquilo que Axel Honneth nomeia como reconhecimento. O reconhecimento, para Honneth, precede, no duplo sentido genético e conceptual, o conhecimento. É na relação prática com o mundo, espécie de simpatia existencial, que se funda o acto cognitivo, ao contrário do que pretende a atitude «tradicional» que julga ver na pura relação cognitiva entre um sujeito e um objecto o fundamento da relação humana com o mundo. Noutra linguagem, Deweyana, o envolvimento na situação precede o processo de abstracção - cognitiva, linguística - de um aspecto particular da mesma, ele mesmo enraizado e retirando parte do seu sentido desse envolvimento.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Memória II

«A teoria da consciência colectiva constitui a trave mestra da sociologia de Durkheim. É a sua ogiva; é sobre ela que se apoia toda a sua concepção da especificidade do social e da sua irredutibilidade a outros sectores do real. Ela está na origem do seu método sociológico, da oposição que estabelece entre a solidariedade mecânica e a solidariedade orgânica, da sua sociologia jurídica e da sua sociologia religiosa, da sua teoria do suicídio e da sua interpretação do Totem e do Maná, na origem enfim da sua ciência dos factos morais e da sua teoria dos valores».
Georges Gurvitch, A vocação actual da sociologia (Ed. Or. de 1968, póstuma).

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Metodologia de investigação I

Numa proposta já com alguns anos, Michelle Lessard-Hébert, Gabriel Goyette e Gérald Boutin propõem que se conceba o processo de investigação apoiado numa estratégia de investigação qualitativa como um espaço quadripolar, organizado portanto em torno de quatro pólos que se implicam mutuamente: o pólo epistemológico, o pólo teórico, o pólo morfológico e o pólo técnico.
Não irei aqui tratar, com a detenção merecida, o pólo morfológico, mas pretendo deixar exposta uma citação que nos remete para um domínio de trabalho e reflexão do investigador, por exemplo o sociólogo, que nem sempre é recordado como devia ser:
«O pólo morfológico relaciona-se com a estruturação do objecto científico; estruturação essa que se exprime através de três características fundamentais.
Este pólo opera, em primeiro lugar, ao nível da exposição do objecto de conhecimento, de uma forma superficial pelo estilo através do qual o investigador exprime os seus resultados mas, fundamentalmente, pela construção de modelos, que podem ser lineares ou "tabulares", de tipo simbólico ou icónico.
Em seguida, a função do pólo morfológico reporta-se a um espaço de causação. A causação é uma posição de coerência lógica e/ou significativa que articula os factos científicos numa configuração operativa. Ela suscita o problema do atomismo ou do holismo, da explicação ou da compreensão. A "explicação" remete para um tipo de causalidade "externa" e visa isolar invariantes ou leis. A "compreensão" origina um tipo de causalidade "interna", tipo expressivo que se refere ao significado dos fenómenos compreendidos como totalidades por um sujeito.
Por último, a função do pólo morfológico é a de permitir uma objectivação dos resultados da investigação, que se processa segundo vários modos.
No âmbito do nosso estudo das metodologias qualitativas, examinaremos, em primeiro lugar, a "estruturação" dos resultados da investigação, ou seja, aquilo que é normalmente apelidado de organização e apresentação dos resultados; trata-se de uma das etapas, ou componentes, da análise dos resultados. Seguidamente, debruçar-nos-emos sobre as modalidades de redacção de um relatório de investigação».
Autores citados, Investigação qualitativa - fundamentos e práticas. Lisboa: Piaget.

sábado, 28 de agosto de 2010

Memória I

Sem dúvida que frequentar os textos elementares que nos reenviam aos aspectos também eles elementares daquilo que se possa dizer ser uma profissão é um exercício saudável. Assim, aqui fica uma citação que suscita alguma reflexão:
«Os fundadores da sociologia foram, de facto filósofos sendo por isso ainda filosófica a sua primeira expressão. Mais do que construtores, estabeleceram apenas os fundamentos da nossa ciência, ao afirmar a necessidade de uma ruptura com a filosofia e de um novo estatuto científico para o saber social. Não é por acaso que muitos dos primeiros sociólogos foram simultaneamente homens de ciência e de técnica. Comte frequentou a Escola Politécnica, e nela ensinou. Spencer, Le Play e Pareto eram engenheiros. Todos quiseram, cada um a seu modo, dar à nova ciência social o rigor das ciências experimentais, procedendo para o efeito à transferência do estatuto das ciências naturais para o estudo da sociedade».
CRUZ, Manuel Braga da, em Teorias Sociológicas - Os Fundadores e os Clássicos, Prefácio.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Instituição

Imagem retirada de :http://www.leseditionsdeminuit.eu/images/3/auteur_1491.jpg


«Cet être sans corps, qui hante la sociologie, c'est évidemment l'institution. Une instituion est un être sans corps à qui est déléguée la tâche de dire ce qu'il en est de ce qui est. C'est donc d'abord (...) dans ses fonctions sémantiques qu'il faut envisager l'institution.»


Luc BOLTANSKI, De la critique.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Touraine: Weber, analista fundamental da modernidade

Imagem retirada de: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjV6csrLuFGJ2Pskq8GhHRrwbDEKPAO1fod1mkiO9BKbis7MOIMiUC-5K-075ZEniPi5LoiuXjRgDyBYwl-Ttf1yY_aB_1Bea5irLYW4ArBWWAPKhE1rem1B_daN7RKHP4hh6MccvpepsY/s320/Touraine-037ff.jpg

«Horkheimer denunciou a degradação da "razão objectiva" em "razão subjectiva", isto é, de uma visão racionalista do mundo numa acção puramente técnica através da qual a racionalidade é posta ao serviço das necessidades, sejam elas de um ditador ou dos consumidores, que deixam de estar submetidos à razão e aos seus princípios de regulação, tanto da ordem social como da ordem natural. Esta angústia conduz a uma mudança de perspectiva. Bruscamente, a modernidade volta a ser designada por "eclipse da razão" por Horkheimer e Adorno e por todos os que foram influenciados por eles, bem distantes da Escola de Francoforte. Raciocínio que prolonga a inquietação de Weber, o maior analista da modernidade. A secularização e o desencantamento do mundo, a separação entre o mundo dos fenómenos, no qual se exerce a acção técnica, e o mundo do Ser, que apenas penetra na nossa vida através do dever moral e da experiência estética, não nos encerrarão numa gaiola de ferro, segundo a célebre expressão com a qual termina o ensaio sobre A Ética protestante e o espírito do capitalismo - tema mais tarde retomado em força por Jürgen Habermas, no início da sua reflexão? Max Weber define a modernidade pela racionalidade dos meios e opõe-na à visão racional dos valores, o que se traduz mais concretamente pela oposição entre a ética da responsabilidade, característica do homem moderno, e a ética da convicção, que apenas pode intervir em circunstâncias excepcionais, da mesma forma que a autoridade carismática, num mundo racionalizado. Eis a imagem weberiana do mundo moderno: a coexistência entre a racionalização quotidiana e uma guerra dos deuses ocasional.»

Alain Touraine, Crítica da Modernidade.

domingo, 18 de abril de 2010

Pragmatismo

«De um ângulo wittgensteiniano ou davidsoniano ou deweyano, não existe tal coisa como "a melhor explicação" de nada; existe apenas a explicação que melhor se ajusta ao propósito de um dado intérprete. A explicação está, como diz Davidson, sempre sob o domínio de uma descrição, e descrições alternativas do mesmo processo causal são úteis para propósitos diferentes. (...) Mas o único tipo de pessoa que estaria disposto a assumir esta atitude pragmática descontraída em relação às explicações alternativas seria alguém que ficasse contente por demarcar a ciência de um modo meramente baconiano. (...)
Numa visão pragmatista, a racionalidade não é o exercício de uma faculdade chamada "razão" - uma faculdade que está numa determinada relação com a realidade. Nem é o uso de um método. É simplesmente uma questão de ser aberto e curioso, e de confiar na persuasão em vez da força.
A "racionalidade científica" é, nesta visão, um pleonasmo, não uma especificação de uma espécie de racionalidade, particular, a paradigmática, cuja natureza pudesse ser clarificada por uma disciplina chamada "filosofia da ciência". Não lhe chamaremos ciência se for usada a força para mudar a crença nem a menos que possamos discernir alguma ligação com a nossa capacidade de predizer e controlar. Mas nenhum destes dois critérios para o uso do termo "ciência" sugere que a demarcação da ciência do resto da cultura ponha distintos problemas filosóficos.»
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Richard Rorty, «A ciência natural é uma espécie natural?»

sábado, 17 de abril de 2010

Reificação

Talvez nunca seja demais voltar a pensar no problema explicitado na citação seguinte, a que já me referi no blogue.

« De par leur nature, les cartes ou les représentations s'abstraient du temps et de l'espace vécus. Faire de ce genre de choses le facteur causal ultime revient à faire de la pratique réelle dans le temps et dans l'espace un simple sous-produit, la simple application d'un schème sans prise sur le réel. Voilà qui est d'un platonisme achevé. Mais ce platonisme, est une tentation constante, non pas seulement à cause de l'accent mis par l'intelectualisme sur la représentation, mais aussi à cause du prestige de la notion de loi telle qu'elle figure dans les sciences de la nature. La loi du carré inverse est une formule intemporelle, aspatiale, qui "dicte" le comportement de tous les corps en toute lieu. Ne devrions-nous pas nous mettre en quête de quelque chose de semblale dans les affaires humaines? Cette invitation à imiter les sciences modernes véritablement couronnée sde succès encourage aussi à la réification de la règle.»

Charles Taylor, «Suivre une règle», Critique, nºs. 579/580.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Reflexão passageira

«A uma acabada fenomenologia do espacial pertenceria (...) a investigação dos dados de lugar (...), que informam a ordem imanente do campo de sensações visuais e o campo ele próprio. Eles relacionam-se com os lugares objectivos que aparecem como os dados qualitativos com as qualidades objectivas fenoménicas. Assim como ali se fala de signos de lugar, devemos falar aqui de signos de qualidade. O vermelho sentido é um dado fenomenológico que, animado por uma certa função de apreensão, torna presente uma qualidade objectiva; ele próprio não é uma qualidade. Uma qualidade no sentido próprio, quer dizer, uma propriedade da coisa que aparece, não é o vermelho sentido, mas o vermelho percepcionado. O vermelho sentido apenas de modo equívoco se chama vermelho, porque "vermelho" é nome de uma qualidade real. Quando se fala, em relação a certos casos fenomenológicos, de uma "coincidência" dos dois, deve porém observar-se que o vermelho sentido só através da apreensão obtém o valor de momento apresentador de uma qualidade cousal, mas que, considerado em si mesmo, não contém em si nada disto e que a "coincidência" do apresentante e do apresentado de modo algum é uma consciência de identidade cujo correlato se chame "um e o mesmo"».
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HUSSERL, Edmund, Lições para uma fenomenologia da consciência interna do tempo.
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Husserl aponta para um problema epistemológico a que, de forma esparsa, me tenho referido, aqui e ali. A não coincidência entre o sentido e a qualidade do que é sentido percebida na apreensão segundo a modalidade própria a esta cinde, numa certa acepção, o mundo "em si", "real", do mundo dos fenómenos, mundo que aparece. Ora, o problema de que falo está precisamente naquilo que implica a modalidade própria da apreensão na constituição de um mundo singular. Sabemos que um mundo (aproximadamente) comum é possível, mas sabemos também que o é a apreensão singular do mundo, nos seus aspectos mais ou menos comuns. Penso que, na investigação sociológica, importa poder dar conta deste tipo de complexidade.

sábado, 10 de abril de 2010

Condições históricas do pensamento

«Tentei mostrar que uma das razões que Hegel apresenta da legitimidade do seu sistema é afirmar que, doravante, o saber absoluto é realizável, que o tempo o permite. Desde A Fenomenologia do Espírito (1806), Hegel explica que a história da humanidade conheceu, com a Revolução Francesa e o Império, uma inflexão decisiva. Hegel diz: O Estado moderno nasceu e, porque apareceu, eu sou capaz de pensar a totalidade da história. O facto de eu ser pensador do Estado moderno - mais precisamente, o facto de eu ser pensador do e no Estado moderno - permite-me, ao mesmo tempo, ter uma visão de conjunto que torna inteligíveis os diversos progressos e os diversos dramas através dos quais a humanidade passou antes de aceder a esta novidade radical.»

François Châtelet, em Uma História da Razão.

Géneses e problemas

«Para começar gostaria de colocar este texto sob o signo de uma frase que li recentemente num texto de Lukács, mas que é, creio, de Hegel: O problema da história é a história do problema e inversamente. (...)
Esta frase implica, com efeito, a asserção de que para estudar de maneira positiva e compreensiva a história de um problema procurando apreender e compreender as transformações que sofreu, primeiro enquanto problema em consequência das transformações dos quadros mentais nos grupos sociais em que era suscitado (transformações que permitiram também entrever diferentes respostas sucessivas), é-se obrigado a relacionar estes fenómenos, que parecem depender unicamente da vida intelectual, com o conjunto da vida histórica e social; é por isso que qualquer tentativa para estudar a um nível sério a história de um problema conduz necessariamente o investigador a colocar, em relação à época que lhe interessa, o problema da história no seu conjunto.»
Lucien Goldmann, Dialéctica e Ciências Humanas I.

Estrutural-Funcionalismo

«Um sistema de parentesco e casamento pode ser considerado como um arranjo que permite às pessoas viverem juntas e cooperarem umas com as outras segundo certa ordem social. Podemos proceder ao estudo de qualquer sistema particular tal como ele existe em dado momento. Para tanto temos de considerar como esse sistema incorpora as várias pessoas pela convergência dos interesses e sentimentos e como controla e limita os conflitos que são sempre possíveis resultantes das divergências. Relativamente a qualquer aspecto de um sistema podemos indagar como é que ele contribui para o funcionamento do todo. É o que queremos significar quando referimos a sua função social. Quando conseguimos descobrir a função de um costume particular, por exemplo, o papel que ele desempenha no funcionamento do sistema a que pertence, alcançamos um entendimento ou explicação dele que é diferente e independente de toda a explicação histórica da sua formação. »

A. R. Radcliffe-Brown, em Sistemas políticos africanos de parentesco e casamento.

Frankenstein e outras histórias

«Estudos de cultura como The Golden Bough [obra clássica da Antropologia, escrita por James Frazer] e os usuais trabalhos sobre etnografia comparada, são discussões analíticas de feições culturais e desprezam todos os aspectos de integração cultural. Práticas de união dos sexos ou de morte são exemplificadas por fragmentos de comportamento escolhidos sem discriminação de entre as culturas mais diferentes, e a discussão constrói uma espécie de monstro mecânico de Frankenstein com um olho direito das Fiji, um olho esquerdo da Europa, uma perna da Terra do Fogo, a outra do Taiti, e todos os dedos das mãos e dos pés de outras proveniências. Figuras como essas não correspondem a qualquer realidade do passado ou do presente, e a dificuldade fundamental é a mesma que seria se, digamos, a psiquiatria se resolvesse num catálogo dos símbolos que os psicopatas utilizam, e ignorasse o estudo de padrões de comportamento sintomático - esquizofrenia, histeria, e perturbações maníaco-depressivas - sob que se manifestam.»

Ruth Benedict, Padrões de Cultura.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Do imediato

Manuel Silvério Marques sobre o Tratado da Evidência de Fernando Gil:

"Salvo melhor opinião, a pergunta princeps de F. Gil no Tratado da Evidência é a seguinte: de que modo os elementos da evidência a podem constituir e como se reúnem para tal? (Os elementos da evidência são múltiplos e heterogéneos: experiência sensorial, sentires ou sentimento, linguagem, metáfora, conceito).

A sua estratégia de investigação/argumentação consiste, parece-me, em fazer refluir as grandes famílias de objectividades ligadas à atenção, à ostensão... à voz..., etc., sobre a experiência subjectiva. Como ultrapassar o fosso entre o sistema conceptual discursivo e lógico e o sistema percepção-linguagem ligado aos afectos, ou mais exactamente, um sentir construído sobre a percepção e a linguagem?

- Através da tematização original da experiência da evidência como um index sui et veri. Destaca, para tal, dois subproblemas:
i. «Como é que a consciência sente e vive... a sua própria experiência linguística e sensível... e, (isso) de uma maneira unificada?»
ii. «Como é que dos sentires nasce a inteligibilidade do sentimento para, por seu turno, se transformar em sentimento de inteligibilidade?»"

MARQUES, M.S. (1996). "Um galo para Asclépio: aproximações à hipótese da passividade originária". Análise, 19, 121-137

segunda-feira, 29 de março de 2010

Singularidade e individualidade

Para os que se debatem com as questões levantadas pela sociologia pragmática e designadamente com o estatuto da singularidade no quadro da acção, transcrevo abaixo a identificação de um problema de grande interesse e porte, levantado por André Barata, docente da Universidade da Beira Interior. Oriunda da filosofia, esta reflexão pode bem estar no centro das preocupações teóricas e epistemológicas do sociólogo. Teóricas, porque se trata, em sociologia, de dar conta da forma como os actores (se) classificam e agem em função dos seus actos de classificação; epistemológica, porque o sociólogo é, ele próprio, um ser classificador, o qual deve estar extremamente atento aos exercícios de generalização / particularização que empreende (caberia perguntar pelas implicações éticas da discussão, mas talvez seja bom deixar isto para outra altura).

"Se falamos de indivíduos, não o fazemos a não ser por algo que nestes se deixa identificar como sendo da ordem do individual. O carácter evidente desta afirmação contrasta, porém, com a dificuldade em se determinar o regime desta identificação quando nos reportamos à classe dos indivíduos singulares. A unicidade convém ao singular como a unidade convém ao indivíduo, mas entre o que é um e o que é único não resulta fácil compreender como estabelecer um regime partilhável.

Com efeito, assumindo a impossibilidade de identificar algo sem, nisso, estar implicado um seu reconhecimento, ou seja, algo que não tivesse, antes, já sido de algum modo identificado, então, parece que uma condição de reconhecimento do que é individual residiria precisamente na sua não singularidade. Conversamente, uma condição do reconhecimento do singular consistiria na resistência ao reconhecimento da sua unidade, da sua unidade enquanto indivíduo. Paradoxalmente, diríamos que os indivíduos apenas se deixam reconhecer como indivíduos singulares justamente por resistirem ao reconhecimento da unidade que nos permitiria individuá-los".

BARATA, A. (2009). "Individualidade e singularidade nas correlações mente/corpo". in SOARES, M. et al.. O Estatuto do Singular - Estratégias e Perspectivas. Lisboa: INCM, pp. 319-331.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Boudon sobre Simmel

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«Le point de départ de Simmel est que tout ce qui a un intérêt du point de vue historique est l'expression ou le produit de phénomènes psychiques. Le tunnel du Saint-Gothard est un objet physique. Mais il est le résultat de certaines décisions, lesquelles répondaient à certaines intentions. Expliquer l'existence du tunnel du Saint-Gothard, c'est donc retrouver ces intentions et ces décisions, c'est reconstruire les contenus de conscience dont il est le produit. L'histoire, comme Simmel nous le dit dès toutes premières phases du livre [Les problèmes de la philosophie de l'histoire], a pour objet 'les représentations et les sentiments des acteurs historiques'.»

Raymond Boudon, Études sur les sociologues classiques

§ 472

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«472. Quando uma criança aprende a linguagem, aprende ao mesmo tempo o que deve e o que não deve ser investigado. Quando aprende que há um armário no quarto, não lhe ensinam a pôr em dúvida que aquilo que vê mais tarde ainda seja o armário e não apenas um adereço de cenário.»

Ludwig Wittgenstein, Da Certeza

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Freund sobre o conceito Weberiano de "tipo ideal"

Imagem extraída de: http://www.infed.org/socialaction/introducing_social_action.htm

«Le véritable rôle de l'idéaltype est (...) d'être un facteur d'intelligibilité, aux deux niveaux de la recherche et de l'exposé. Prenons d'abord le premier aspect. La construction idéaltypique permet de former les jugements d'imputation causale, non point parce qu'elle revendique la qualité d'une hypothèse, mais parce qu'elle guide l'élaboration des hypothèses, sur la base d'une imagination nourrie d'expérience et disciplinée par une méthode rigoureuse. C'est lá un point essentiel. En effet, l'utopie rationnelle permet de déterminer la singularité d'un développement, d'une doctrine et d'une situation en indiquant, dans chaque cas particulier, à quel degré la réalité s'écarte du tableau de pensée homogène et irréel. L'idéaltype sert pour ainsi dire d'instrument de mesure. Supposons qu'on veuille étudier l'artisanat au Moyen Age. On construira un idéaltype sur la base des traits caractéristiques et typiques de l'organisation artisanale. On y comparera ensuite la réalité empirique, de sorte que l'on pourra déterminer si la société médiévale était ou non purement artisanale ou si, au contraire, des éléments d'une autre forme économique (par exemple capitaliste) ne s'y montraient déjà. Dans ces conditions, il sera plus facile d'instruire l'imputation causale. (...) L'irréalité de l'idéaltype lui donne la signification d'un concept limite permettant de mesurer le développement réel et de clarifier la vie empirique quant à ses éléments les plus importants.»

FREUND, Julien,
Sociologie de Max Weber
, Paris, Presses Universitaires de France, 1966

Retrato



Imagens obtidas na Norbert Elias Foundation: http://www.norberteliasfoundation.nl/

Nathalie Heinich, na sua obra Comptes rendus, a que tive acesso pela extrema amabilidade e grande amizade de um próximo, desenha um interessante retrato escrito de Norbert Elias, a quem notoriamente venera (no melhor sentido da expressão). Transcrevo do mesmo uma pequena parte:

«'Alors, toi aussi tu as ton gourou?', dit en riant mon amie Pujarine, qui vit dans un ashram en Indie, en voyant sur la cheminée du bureau la photo de Norbert Elias, posée entre le canard en plastique et le cygne-salière en argent. Tout de même, il manque la petite bougie qui brûlerait devant en permanence, comme sur un autel... Mais cette photo n'est pas là par hasard: il m'avait fallu écrire en Angleterre pour commander spécialement ce numéro de Theory, Culture and Society qui lui était consacré en 1987, avec cette photo pleine page que j'avais ensuite découpée au cutter, et enformée dans le sous-verre qui la protège et la fait tenir droit, toujours à la même place, face au bureau.

Je peux donc la voir en travaillant. Mais je ne la regarde guère: je la connais trop bien, je sais ce que j'y ai trouvé la première fois que je l'ai vue, et que j'y retrouve chaque fois que mes yeux s'y posent autrement que de ce regard distrait qui s'appuie sur les objets familiers pour mieux se concentrer sur l'écriture (...). Je connais par coeur ce regard, paradoxalement si intense derrière les gros carreaux des lunettes, et autour de quoi tout s'équilibre, le visage encore si beau, si bien dessiné malgré le grand âge, le front agrandi par la calvitie, les mèches blanches tout en haut contrastant aves le bas de la photo qui déjà se fond dans le noir...»

HEINICH, Nathalie, Comptes rendus, Lièges, Les impressions nouvelles, 2007.

A construção das populações de risco


Imagem extraída de:
http://www.google.pt/imgres?imgurl=https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_UiNDhMGXendp5N6-b7G9R_RkpG7LejtYEb6ooLkWJcYWXET9dBvvNwRF1NdwpiNNIkOp-okcKHnWezLYulo3xiJ0AnpZUIdnZQtfb7uZjCG6kWkbNa-6Hw5kODqq2tECc-9vnWfOJHA/s1600/AVT_Robert-Castel_2418.jpg&imgrefurl=http://fatosociologico.blogspot.com/2010/10/robert-castel-e-construcao-do-individuo.html&h=257&w=380&sz=20&tbnid=fi9GAgYnO9IE2M:&tbnh=90&tbnw=133&zoom=1&usg=__UUWUdg6sWazaDEfexsfbkjNW7Xk=&docid=QP8Uxp3UKqjiRM&sa=X&ei=obX9UO-_NM-7hAe7xoHgBg&ved=0CEoQ9QEwAw&dur=391

A propósito do trabalho que tenho vindo a realizar em torno do domínio da saúde e, designadamente, de leituras e pesquisas feitas sobre a área da saúde pública, exponho abaixo um excerto de um livro recente de Robert Castel, em que o autor explicita brevemente alguns aspectos fulcrais do que considera serem os efeitos da transformação, ao longo do século XX e aos olhos das administrações públicas, das populações perigosas em populações de risco. Segundo Castel, esta transformação reforça uma lógica de acção preventiva (já anteriormente em constituição, como nos ensina Vigarello) e orientada para uma gestão previsional à distância das populações. No caso da medicina, tal representa amiúde uma ruptura com a clínica de proximidade e atenta aos sinais e sintomas transmitidos directamente pelo doente.



«Une telle approche du risque promeut en même temps une véritable mutation des modalités d'intervention sur autrui. Le médecin doit être dans une relation de face-à-face avec son patient, l'assistance sociale avec l'usager de son service, le policier avec le délinquant qu'il veut interpeller. Cette relation peut se dérouler pour le meilleur ou pour le pire, mais elle est une modalité de la rencontre, et aussi l'exercice d'une professionnalité qui passe par un échange entre les individus. La construction de populations à risques donne naissance à un type de professionnel, ou d'expert, tout différent. Il travaille à distance, dans une administration peut-être, ou un ministère, ou dans une officine dont presque personne ne sait le nom. Il recueille des données, recoupe des informations, construit des profils.»

CASTEL, Robert, La montée des incertitudes - Travail, protection, statut de l'individu, Paris, Éditions du Seuil, 2009.