quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Goffman: a interacção face-a-face

Foto extraída de: http://deguy.files.wordpress.com/2008/07/goffman4.jpg


Quando os indivíduos se encontram em presença mútua imediata - qualquer que seja a razão - uma das condições fundamentais da vida social torna-se extremamente nítida: trata-se do seu carácter indicador e promissório. Não se trata apenas do facto da nossa aparência e as nossas maneiras darem indicações sobre o nosso estatuto e as nossas relações. Acontece também que a linha da nossa atenção visual, a intensidade do nosso envolvimento e a forma das nossas acções iniciais permitem aos outros adivinhar a nossa intenção imediata e o nosso objectivo, e tudo isto independentemente do facto de estarmos ou não envolvidos numa conversa verbal com eles. Correlativamente, estamos constantemente em posição de facilitar esta revelação ou de bloqueá-la, ou mesmo de induzir em erro os que nos observam. O carácter rebuscado destas observações é, ele próprio, facilitado e complicado por um processo central que falta ainda estudar sistematicamente - a ritualização social, isto é, a estandartização do comportamento corporal e vocal através da socialização, o que permite a tal comportamento - a tal gesto, se quiserem - uma função comunicacional específica no decurso do comportamento geral.



Quando estão em presença um do outro, os indivíduos estão admiravelmente colocados para partilharem um centro de atenção comum, para perceberem que o fazem, para perceberem esta percepção. Isto, em conjunto com a sua capacidade para indicar os seus próprios movimentos de acção física e para transmitir rapidamente as suas reacções às indicações provenientes do outro, fornece a condição básica para qualquer coisa de essencial: a coordenação estreita e continuada da acção, quer seja ao serviço de tarefas ou como meio de favorecer tarefas estreitamente próximas. A palavra acresce muitíssimo a eficácia de uma tal coordenação, sendo especialmente crítica, quando alguma coisa não corre conforme o indicado ou previsto. (É sabido que a palavra tem um outro papel especial, permitindo trazer, no processo de colaboração, elementos colocados fora da situação, do mesmo modo que permite negociar projectos a propósito de assuntos que é preciso tratar para além da situação em questão, mas isto é um outro problema terrivelmente complexo.)



Outra coisa: a caracterização que um indivíduo pode fazer de um outro, devido à sua capacidade para observar e para entender directamente, está organizada em duas formas fundamentais de identificação: a forma categorial que implica colocar o outro numa ou várias categorias sociais, e a forma individual pela qual o indivíduo observado é associado a uma identidade única e distinta através da aparência, do tom de voz, da menção do nome ou de outros dispositivos diferenciadores da pessoa. Esta dupla possibilidade - identificação categorial e individual - é essencial para a vida interaccional em todas as comunidades, excepto nos pequenos grupos isolados dos tempos antigos e, de facto, encontramo-la, igualmente, na vida social de outras espécies.



Goffman, Erving, A ordem da interacção, discurso à American Sociological Association (não apresentado oralmente, por doença), 1982.

sábado, 10 de outubro de 2009

Indução

Retirado de http://www.drdelmath.com/college_algebra/image/math_induction_statement.gif

Em termos algébricos, a demonstração por indução matemática é geralmente aceite pelos respectivos especialistas (tanto quanto sei, eu que não sou matemático - perdoe-se-me a indução). Assim, para o caso dos números naturais, desde que i) se possa verificar que o teorema ou fórmula em análise são válidos para um determinado número natural, n, ou qualquer outro; e ii) se admita que o teorema ou fórmula são válidos para n=p e prove que também são válidos para n=p+1; podemos concluir que o teorema ou a fórmula são válidos para os números naturais não inferiores ao n inicial. Como garantir algo tão simples e tão eficaz numa ciência empírica e, nomeadamente, numa ciência social? O valor da indução parece aqui ser mais da ordem da presunção que da demonstração.