Numa proposta já com alguns anos, Michelle Lessard-Hébert, Gabriel Goyette e Gérald Boutin propõem que se conceba o processo de investigação apoiado numa estratégia de investigação qualitativa como um espaço quadripolar, organizado portanto em torno de quatro pólos que se implicam mutuamente: o pólo epistemológico, o pólo teórico, o pólo morfológico e o pólo técnico.
Não irei aqui tratar, com a detenção merecida, o pólo morfológico, mas pretendo deixar exposta uma citação que nos remete para um domínio de trabalho e reflexão do investigador, por exemplo o sociólogo, que nem sempre é recordado como devia ser:
«O pólo morfológico relaciona-se com a estruturação do objecto científico; estruturação essa que se exprime através de três características fundamentais.
Este pólo opera, em primeiro lugar, ao nível da exposição do objecto de conhecimento, de uma forma superficial pelo estilo através do qual o investigador exprime os seus resultados mas, fundamentalmente, pela construção de modelos, que podem ser lineares ou "tabulares", de tipo simbólico ou icónico.
Em seguida, a função do pólo morfológico reporta-se a um espaço de causação. A causação é uma posição de coerência lógica e/ou significativa que articula os factos científicos numa configuração operativa. Ela suscita o problema do atomismo ou do holismo, da explicação ou da compreensão. A "explicação" remete para um tipo de causalidade "externa" e visa isolar invariantes ou leis. A "compreensão" origina um tipo de causalidade "interna", tipo expressivo que se refere ao significado dos fenómenos compreendidos como totalidades por um sujeito.
Por último, a função do pólo morfológico é a de permitir uma objectivação dos resultados da investigação, que se processa segundo vários modos.
No âmbito do nosso estudo das metodologias qualitativas, examinaremos, em primeiro lugar, a "estruturação" dos resultados da investigação, ou seja, aquilo que é normalmente apelidado de organização e apresentação dos resultados; trata-se de uma das etapas, ou componentes, da análise dos resultados. Seguidamente, debruçar-nos-emos sobre as modalidades de redacção de um relatório de investigação».
Autores citados, Investigação qualitativa - fundamentos e práticas. Lisboa: Piaget.
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