Como sabe quem me é mais próximo, um dos focos principais do meu trabalho actual é a medicina. Nomeadamente, as ordens convencionais - e os dispositivos em que as mesmas se consolidam - que configuram a medicina moderna. Hoje, pensei em deixar aqui uma breve caracterização que Gonçalves Ferreira faz de uma prática de saúde - para retomar a expressão de Vigarello - que a partir do século XIX a medicina moderna vai começar a relegar para segundo plano no contexto europeu, à medida que ela própria se afirma socialmente: a homeopatia.
A homeopatia aparece no fim do século XVIII, fundada por Hahnemann (1755-1843) e vai dominar durante mais de um século, como método de cura, alguns meios médicos em oposição à medicina clássica, tendo chegado a sua prática, em círculos restritos, aos nossos dias. A ideia básica do novo método era a de que o efeito curativo de cada remédio resultava do facto de provocar uma doença - a doença do remédio - que era o contrário ou antídoto da doença natural que se lhe assemelha. (...) § Hahnemann sentiu-se capaz de elaborar um novo método de terapêutica específica para cada doença identificada pelo diagnóstico, aplinaco a regra de que «Para curar por forma benigna, de um modo rápido, seguro e duradoiro, escolha-se em todos os casos de doença um medicamentp que possa provocar um mal semelhante (Homoion pathon) ao que se pretende curar». Ao método chamou homeopatia (sofrimento igual), em oposição ao método dos antídotos (alopatia ou sofrimento diferente), e considerou a dose mais eficaz a da trigésima diluição do novo medicamento ou do solúvel e habitualmente empregado para produzir a doença semelhante. (in FERREIRA, F.A.Gonçalves (1990), Historia da saúde e dos serviços de saúde em Portugal, Lisboa, FCG)
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