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«O círculo institucionalizado do desconhecimento colectivo que funda a crença no valor de um discurso ideológico só se instaura quando a estrutura do campo de produção e de circulação desse discurso é tal que a denegação que opera dizendo apenas o que diz sob uma forma tendente a mostrar que ele não o diz, encontra intépretes capazes de re-desconhecer o conteúdo que ele denega; enquanto que aquilo que a forma nega é re-desconhecido, ou seja, conhecido e reconhecido na forma, e apenas na forma onde ele se cumpre, negando-se. Em suma, um discurso de denegação pede uma leitura formal (ou formalista) que reconhece e reproduz a denegação inicial, em vez de a negar para descobrir aquilo que nega. A violência simbólica que encerra todo o discurso ideológico enquanto desconhecimento requerendo o re-desconhecimento só se exerce na medida em que consegue obter dos seus destinatários que o tratem como ele pede para ser tratado, quer dizer, com todo o respeito que ele merece, nas formas, enquanto forma. Uma produção ideológica é tanto mais conseguida quanto mais capaz de desacreditar quem quer que tente reduzi-la à sua verdade objectiva: o próprio da ideologia dominante é estar na posição de fazer cair a ciência da ideologia sob a acusação de ideologia; a enunciação da verdade escondida do discurso escandaliza porque diz o que seria "a última coisa a dizer"», Pierre Bourdieu, em O que falar quer dizer.
Defendendo a necessidade de uma escrita complexa, dada a complexidade dos objectos que (d)enuncia, Pierre Bourdieu foi um autor sem dúvida extraordinariamente consistente, um cientista duro no seu rigor. Deixou-nos pérolas dificilmente decifráveis, sobretudo para quem esteja mal familiarizado com a sua teoria (o que é sempre expectável), como aquela que exponho abaixo.
Já agora e para os especialistas e amadores informados, é interessante a comparação com a mensagem anterior, sobre o realismo formalista. Consegue-se a explicitação do formalismo - nomeadamente na sua forma realista, ou seja, tendente a fazer-se crer modelo "literal" da realidade - enquanto discurso ideológico.
«O círculo institucionalizado do desconhecimento colectivo que funda a crença no valor de um discurso ideológico só se instaura quando a estrutura do campo de produção e de circulação desse discurso é tal que a denegação que opera dizendo apenas o que diz sob uma forma tendente a mostrar que ele não o diz, encontra intépretes capazes de re-desconhecer o conteúdo que ele denega; enquanto que aquilo que a forma nega é re-desconhecido, ou seja, conhecido e reconhecido na forma, e apenas na forma onde ele se cumpre, negando-se. Em suma, um discurso de denegação pede uma leitura formal (ou formalista) que reconhece e reproduz a denegação inicial, em vez de a negar para descobrir aquilo que nega. A violência simbólica que encerra todo o discurso ideológico enquanto desconhecimento requerendo o re-desconhecimento só se exerce na medida em que consegue obter dos seus destinatários que o tratem como ele pede para ser tratado, quer dizer, com todo o respeito que ele merece, nas formas, enquanto forma. Uma produção ideológica é tanto mais conseguida quanto mais capaz de desacreditar quem quer que tente reduzi-la à sua verdade objectiva: o próprio da ideologia dominante é estar na posição de fazer cair a ciência da ideologia sob a acusação de ideologia; a enunciação da verdade escondida do discurso escandaliza porque diz o que seria "a última coisa a dizer"», Pierre Bourdieu, em O que falar quer dizer.
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