quinta-feira, 12 de março de 2009

Re-ligar

Imagem extraída de: http://portodaspipas.blogs.sapo.pt/arquivo/Sky.jpg
Mircea Eliade foi, sem dúvida, um profundo e extremamente erudito historiador das religiões -tristemente conhecido, também, pela sua simpatia pelos regimes ditatoriais. Não obstante esta sua derivação ideológica, o seu trabalho intelectual é digno de particular nota. Como presentemente sou mobilizado por certos aspectos, dir-se-ia fenomenológicos, da interpretação da actividade humana, estou tentado a voltar a pegar nos "velhos" livros sobre religião. Já darei nota do porquê. Antes, uma citação de Eliade, na abertura do seu enciclopédico Tratado de história das religiões: «A ciência moderna reabilitou um princípio que certas confusões do século XIX comprometeram gravemente: é a escala que cria o fenómeno. Henri Poincaré perguntava a si próprio, com ironia: "um naturalista que só tivesse estudado um elefante ao microscópio acreditará conhecer completamente este animal?" O microscópio revela a estrutura e o mecanismo das células, estrutura e mecanismo idênticos em todos os organismos pluricelulares. E não há dúvida de que o elefante é um animal pluricelular. Mas não será mais do que isso? À escala microscópica podemos conceber uma resposta hesitante. À escala visual humana, que tem pelo menos o mérito de nos apresentar o animal como fenómeno zoológico, não há hesitação possível. Da mesma maneira, um fenómeno religioso somente se revelará como tal com a condição de ser apreendido dentro da sua própria modalidade, isto é, de ser estudado à escala religiosa.»


Princípio metodológico a que estaremos atentos, portanto: o fenómeno religioso deve ser apreendido na sua modalidade própria. Pouco importa aqui e agora discutir se a apreensão da modalidade é uma questão de escala ou não, como aduz Eliade. Avancemos uma hipótese (surgida aqui sem dúvida com uma rapidez de todo estranha ao processo intelectual que a ela pode conduzir); antes disso porém, um pressuposto (resultante de uma longa tradição de pensamento nas ciências do homem): a modalidade própria do fenómeno religioso é a relação (do sujeito) com uma qualquer transcendência. Isto ainda é, talvez e no entanto, pouco específico. Mas, notemos: deste ponto de vista, o fenómeno religioso apresenta-se numa modalidade - é esta a hipótese - próxima, quando não (por vezes?) a mesma, do amor (leia-se por exemplo o post sobre agapè, neste blogue). Quer pela relação com o transcendente (um outro é sempre transcendente), quer - pelo menos em certos momentos mais ou menos "místicos" (peço desculpa pelo atabalhoamento da linguagem, mas há que dizer em poucos parágrafos coisas que fariam correr rios de tinta) - pela natureza de gratuitidade e entrega experienciadas (donde, distintas, também aqui, da magia), quer pela respectiva modulação afectiva.


Avançarei em seguida dois exemplos. Diferentes, muito embora situados numa mesma tradição e, ao mesmo tempo, unidos pela consciência aguda da centralidade do amor na relação com o transcendente, no caso, divino.


Disse que referiria o porquê desta retoma. Conversas, tidas aqui e ali, com grandes e bons amigos, de ontem, de hoje e seguramente do futuro.

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