domingo, 18 de abril de 2010

Pragmatismo

«De um ângulo wittgensteiniano ou davidsoniano ou deweyano, não existe tal coisa como "a melhor explicação" de nada; existe apenas a explicação que melhor se ajusta ao propósito de um dado intérprete. A explicação está, como diz Davidson, sempre sob o domínio de uma descrição, e descrições alternativas do mesmo processo causal são úteis para propósitos diferentes. (...) Mas o único tipo de pessoa que estaria disposto a assumir esta atitude pragmática descontraída em relação às explicações alternativas seria alguém que ficasse contente por demarcar a ciência de um modo meramente baconiano. (...)
Numa visão pragmatista, a racionalidade não é o exercício de uma faculdade chamada "razão" - uma faculdade que está numa determinada relação com a realidade. Nem é o uso de um método. É simplesmente uma questão de ser aberto e curioso, e de confiar na persuasão em vez da força.
A "racionalidade científica" é, nesta visão, um pleonasmo, não uma especificação de uma espécie de racionalidade, particular, a paradigmática, cuja natureza pudesse ser clarificada por uma disciplina chamada "filosofia da ciência". Não lhe chamaremos ciência se for usada a força para mudar a crença nem a menos que possamos discernir alguma ligação com a nossa capacidade de predizer e controlar. Mas nenhum destes dois critérios para o uso do termo "ciência" sugere que a demarcação da ciência do resto da cultura ponha distintos problemas filosóficos.»
-
Richard Rorty, «A ciência natural é uma espécie natural?»

Sem comentários:

Enviar um comentário